Rede Indígena da USP inicia parceria com a UFG para projetos de extensão sobre saúde e bem-viver indígena
No final de 2023, uma proposta de extensão foi pensada por docentes e pesquisadoras do curso de Enfermagem da UFG, para realização de rodas de conversa sobre saúde e do bem viver com estudantes indígenas e profissionais de serviços de saúde do Estado de Goiás. Visando, através do processo colaborativo, propiciar a formação dos envolvidos para participarem em eventos públicos e elaborarem projetos de extensão universitária em diálogo com suas comunidades de origem.
A UFG possui um programa de inclusão desde 2008, que disponibiliza uma vaga em cada curso presencial de graduação da UFG (Regionais Catalão, Goiânia, Goiás e Jataí) em que houver candidatos(as) indígenas inscritos(as) e criou uma vaga em cada curso presencial de graduação da UFG em que houver candidato(as) quilombolas inscritos(as). Os estudantes do programa UFG Inclui contam com um apoio da Secretaria de Inclusão SIN/UFG,a Universidade também disponibiliza por meio da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis PRAE, assistência financeira com bolsas de permanência, moradia e alimentação, proporcionando um diálogo que reconhece o processo de exclusão de indígenas e quilombolas do ambiente acadêmico. São ações voltadas para minimizar o preconceito e a exclusão histórica de parcela significativa da população brasileira no ambiente universitário, cientes de que ainda permanecem os desafios de permanência destes alunos. Um dos caminhos para lidar com os desafios é a composição de ações que estimulem o diálogo e o protagonismo dos estudantes no sentido de adequação, pela Universidade, das formas de ensino, aprendizagem e concepções acerca do processo formativo.
O início da parceria com a Rede Indígena da USP remonta ao convite que o professor do Instituto de Psicologia, Danilo Silva Guimarães recebeu para coorientador o mestrado profissional de Milena Nunes de Almeida, sobre ações de cuidado e prevenção ao suicídio, que abordou políticas públicas numa perspectiva intercultural dialógica. Milena entrou em contato com desafios e caminhos, apontados pelos participantes entrevistados por ela ao desenvolverem ações na rede de cuidados em saúde mental indígena.
Os resultados da pesquisa apontaram como desafios a formação profissional restrita ao modelo biomédico, que não considera suficientemente as especificidades étnicas, raciais, culturais imbricadas nas formas de cuidado. Foram reportadas dificuldades relacionadas à falta de capacitação para o trabalho, necessidade de entendimento das línguas, costumes e valores e cosmovisões indígenas. O tema da precariedade nas condições de trabalho e da escassez de recursos para o trabalho profissional também foi focalizado. Os entrevistados refletiram, como caminhos possíveis para lidar com as realidades indígenas complexas no âmbito do cuidado em saúde mental, sobre a necessidade de maior investimento em ações de saúde mental pelos entes federados e uma organização dos processos de trabalho contemplando maior proximidade das comunidades para a prevenção de novos casos de suicídio, formação de equipes multiprofissionais de cuidado em saúde mental, respeito ao trabalho do pajé e ao uso dos conhecimentos tradicionais de cura pela comunidade.
Parte dos resultados da pesquisa foram discutidos no artigo de Almeida, M. N., Caixeta, C. C., Santos Silva, N. D., de Morais, N. M., Dos Santos, P. D., Gonçalves, L. P., Achatz, R. W., Silva Guimarães, D., & Chaudhary, N. (2024). Challenges and Concerns in Assisting Indigenous People with Suicide Attempts. Integrative psychological & behavioral science, 58(1), 319–337. https://doi.org/10.1007/s12124-023-09803-x.
![Print de uma reunião de trabalho com parte da equipe do projeto.](https://redeindigena.ip.usp.br/wp-content/uploads/sites/776/2024/05/Screenshot_20240405_160816_Zoom-140x300.jpg)
Print de uma reunião de trabalho com parte da equipe do projeto.
A proposta atual, por sua vez, ganhou relevância a partir da iniciativa da Rede Indígena de estudar as concepções, práticas e ambientes para a saúde e bem-viver, emergentes nas produções resultantes das atividades de cultura e extensão iniciadas em 2012 na Universidade de São Paulo (processo FAPESP número 2022/04906-3). Compusemos uma equipe internacional, interdisciplinar e interétnica para discutir os sentidos do processo dinâmico de diálogos entre comunidades acadêmicas e indígenas no contexto da Rede, uma das expansões focalizadas é a parceria com a UFG em ações de cultura e extensão. Na medida em que as ações se tornem públicas, podem ser referidas no estudo, assegurando a autoria indígena de seus conhecimentos. Ou seja, nas ações de extensão, a proposta da Rede é de que os indígenas sejam reconhecidos como sujeitos de conhecimentos, proponentes das práticas e reflexões pertinentes em diálogo com a equipe. Participam desse projeto, pesquisadores de diversas Universidades do Brasil como USP, UFG e pesquisadores associados pertencentes a diversos contextos acadêmicos internacionais: Colômbia (Universidade de Valle); Dinamarca (Universidade de Aalborg); Alemanha (Universidade Sigmund Freud); Índia (Universidade de Délhi); Itália (Universidade de Salerno); Nova Zelândia (Universidade de Massey, Universidade de Auckland e Universidade de Waikato), Noruega (Universidade de Oslo); África do Sul (Global Brain Health Institute), dentre outros.
Especificamente quanto às ações de Extensão Universitária, a estudante do curso de medicina veterinária na UFG, Ana Kuiau Suya Trumai, juntamente com Gerência de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás (SES-Go), a Faculdade de Enfermagem – UFG, e a Secretaria de Inclusão SIN-UFG irá se envolver em atividades com propostas de acolhimento aos acadêmicos indígenas da universidade, promovendo a compreensão de concepções práticas de saúde e bem estar dos acadêmicos. Estão sendo propostas rodas de conversas, para abordar temas como saúde e bem viver, atividades em datas importantes de cada curso, para apresentar o projeto, oficinas com os estudantes indígenas sobre saúde, atividades que envolvem trocas culturais e contação de histórias.
Financiamento: FAPESP (Processo número: 22/04906-3) e CNPq (Processo número: 306149/2023-0).
Por Ana Kuiau Suya Trumai, Milena Nunes de Almeida, Camila Cardoso Caixeta, Nathalia Dos Santos Silva e Danilo Silva Guimarães.