Rede de Atenção à Pessoa Indígena Instituto de Psicologia Departamento de Psicologia Experimental
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24/04/2025

Projeto: Os Sentidos de Saúde e Bem-Viver Emergentes na Rede de Atenção à Pessoa Indígena da USP

Por Eduarda Santos Costa(Bolsista PIBIC, processo número 2024_1071)

 

A Psicologia é um campo de conhecimento que surgiu nas sociedades coloniais e, por conta disso, carrega as respostas que a tradição colonial desenvolveu para questões relacionadas ao encontro com a diversidade de formas de ser humano.

A pesquisa de Iniciação Científica propõe incluir concepções, práticas e ambientes das tradições indígenas no debate sobre saúde e bem-viver. Visa discutir os tensionamentos no campo da saúde e bem-viver emergentes na Rede de Atenção à Pessoa Indígena, por meio de material analisado, atuando na fronteira entre a psicologia, políticas públicas de saúde, filosofia, antropologia e reflexões indígenas.

Essa Iniciação Científica está vinculada ao projeto “Rede de Atenção à Pessoa Indígena: concepções, práticas e ambientes para a saúde e o bem-viver” (processo FAPESP número 22/04906-3). O objetivo do projeto é aprofundar a compreensão de concepções, práticas e ambientes de saúde e bem-viver de comunidades indígenas, comunidades acadêmicas e o diálogo entre elas. Estão sendo mapeadas concepções de saúde e bem-viver através de uma análise dialógica da documentação da Rede de Atenção à Pessoa Indígena entre 2012 e 2021.

O serviço da Rede tem proporcionado experiências formativas na extensão universitária, fomentando reflexões sobre a urgente transformação da Psicologia através da inclusão das tradições não europeias, como as indígenas.

A Rede surgiu em 2012 com o objetivo de suprir a necessidade de inclusão de concepções, práticas e ambientes indígenas no território dos conhecimentos acadêmicos científicos. Essas necessidades, enfatizadas por movimentos indígenas internacionais, dialogam com as preocupações de lideranças indígenas quanto à exploração de seus conhecimentos por pesquisadores não comprometidos com o bem-viver das pessoas e comunidades. Levando a sério os incômodos expressos pelos interlocutores indígenas, a produção de um projeto de extensão universitária (e não de pesquisa) foi a forma ética encontrada para evitar desconfortos com as comunidades envolvidas. Assim nasceu a Rede de Atenção à Pessoa Indígena.

Atualmente, a Rede segue em plena atividade como um serviço sediado no Departamento de Psicologia Experimental do IPUSP. O serviço ampliou sua rede de relações na comunidade acadêmica, articulando professores, estudantes e voluntários de diversos cursos. Também expandiu suas conexões com povos indígenas de todas as regiões do território brasileiro, além de parcerias com redes e comunidades indígenas internacionais.

Os dados selecionados para análise são registros públicos das ações da Rede: projetos, relatórios, registros audiovisuais de eventos, entre outros materiais não restritos eticamente. Como a Rede sempre dialogou com a comunidade com o objetivo de fazer extensão (e não pesquisa), os produtos dessa extensão tornam-se agora objeto de uma pesquisa que busca compreender as tensões dialógicas que guiaram transformações nas concepções, práticas e ambientes de saúde e bem-viver ao longo da trajetória da Rede.

A seleção e organização dos registros públicos seguiu o critério de livre acesso e vínculo explícito com a Rede. A abordagem metodológica parte do entendimento do processo comunicativo como um evento situado, que articula posições do falante e do destinatário, além da análise de conteúdo e expressividade. A análise também considera elementos da revisão integrativa e da sistematização da análise dialógica do discurso.

A pesquisa propõe contribuir com a identificação de relações entre concepções, práticas e ambientes de saúde e bem-viver por meio das seguintes análises:

Resultado 1:Delimitação dos entendimentos prévios sobre saúde e bem-viver entre os pesquisadores do projeto, com base nas perguntas:Quem diz o quê? Para quem? Quando/onde?

Resultado 2:Análise do dialogismo constitutivo entre os enunciados da totalidade dos registros públicos da Rede.

Resultado 3:Análise do dialogismo interno aos documentos, observando rupturas de regularidade, posicionamentos expressivos, lacunas e reelaborações criativas dos sentidos do narrador. Inclui também comparações entre múltiplas perspectivas registradas e discussões em grupo com a equipe da Rede.

Resultado 4:Compreensão das tensões dialógicas entre perspectivas na série espacial (transversal) e temporal (longitudinal), observando transformações nas concepções, práticas e ambientes ao longo da trajetória da Rede.

Resultado 5:Delineamento de um protocolo das práticas acadêmicas da Rede com comunidades indígenas, a partir da sistematização das reflexões emergentes nos documentos analisados e debatidas com a equipe de pesquisadores e os interlocutores indígenas.

Os procedimentos adotados viabilizam uma troca dialógica em que a comunidade de pesquisa se posiciona como participante do espaço de cultura e extensão, respeitando suas especificidades. Ao mesmo tempo, a equipe acadêmica compartilha suas reflexões a partir da documentação analisada, garantindo que a construção do conhecimento seja participativa. Essa tramitação facilitada do conhecimento é um dos principais objetivos da pesquisa.

Nosso desejo é abordar as práticas de saúde e bem-estar presentes nas ações da Rede e compreender como podemos garanti-las e ampliá-las, construindo uma Psicologia responsiva às questões indígenas.