Relatório anual da Rede de Atenção à Pessoa Indígena do ano de 2024
Em 2024 iniciamos o ritual de escrita dos relatórios anuais da Rede Indígena da USP. Em momentos anteriores, esboços dessa prática já tinham sido propostos, mas não havia a perspectiva de mantê-la com regularidade. A cada projeto pontual que a Rede elaborava, solicitando eventuais recursos da universidade para a sua realização, era demandado um relatório acadêmico relativo ao projeto específico. Para cada estudante envolvido em disciplinas, projetos e visitas às comunidades, a Rede demandava a escrita de um relatório reflexivo da experiência. Em projetos maiores nos quais esteve envolvida, alguns relatórios foram articuladores de conjuntos de atividades empreendidas ao longo de dois anos inteiros. O ritual de produção de relatoria escrita é um dos mais relevantes para a universidade.
Quando iniciamos o projeto “Rede de atenção à pessoa indígena: concepções, práticas e ambientes para saúde e bem-viver” com apoio da FAPESP (processo número 22/04906-3) e do CNPq (processo número 306149/2023-0), esperávamos ter um espelho refletido do conjunto de experiências da Rede, desde o ano de 2012, quando teve início com um projeto do programa Aprender na Comunidade da PRCEU-USP. As ações da Rede deixaram vestígios públicos que agora seriam tomados como fonte histórica de um percurso de transformações em parte dos ritos acadêmicos para o aprofundamento do diálogo com as pessoas indígenas. A reflexão propiciada pelas análises dos vestígios produzidos em continuidade no tempo seria relevante para elaboração de fundamentos para abertura da psicologia aos modos indígenas de ser, viver e conhecer, propositivos de soluções para impasses contemporâneos aos quais se volta toda a psicologia.
Falamos aqui de aberturas para um diálogo como escuta atenta e implicada nas dificuldades enfrentadas por pessoas e comunidades indígenas, mas também atenta e implicada nas avaliações indígenas sobre as experiências focalizadas e nas soluções indígenas para as questões psicossociais avaliadas.
O relatório visa trazer de volta aspectos desse percurso que em muito excede o que pode ser recuperado nos grafismos verbais e fotografados nas peles de papel. Muito do registro permanece acessível apenas à corporeidade de quem participou das atividades ou é passível de ser comunicado na oralidade. Os esforços de produção dos registros manuscritos, por sua vez, amplia a publicização de partes das experiências, tornando-as acessíveis para os parceiros que já a Rede já constituiu e agora são egressos, aqueles situados em territórios mais afastados da Casa de Culturas Indígenas da USP e outros que, sucessivamente, se aproximam para compor com quem prossegue em sua presencialidade. Para que as reflexões não se percam, guiando a continuidade em transformação dos ritos da Rede Indígena da USP.
Pindorama, São Paulo, 21 de agosto de 2025.


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