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Relatório Anual da Rede de Atenção à Pessoa Indígena do ano de 2023

A Rede de Atenção à Pessoa Indígena (Rede Indígena) iniciou suas atividades em 2012, como um projeto de extensão vinculado ao Laboratório de Interação Verbal e Construção de Conhecimento (LIVCC), situado no departamento de Psicologia Experimental (PSE) do Instituto de Psicologia da USP (IPUSP). Com a continuidade e ampliação das ações da Rede, em 2015, houve a sua formalização como um serviço vinculado ao (PSE). Em 2017, construímos a Casa de Culturas Indígenas entre a Biblioteca do IPUSP e o Centro Escola (CEIP), numa área que, posteriormente, veio a ser reivindicada pelos indígenas que participam das atividades da Rede para se tornar a Praça dos Povos Indígenas. 

O presente relatório faz parte dos esforços da Rede de sistematizar o conjunto de ações que vem realizando e que se transformam ano após ano. Trata-se de um cuidado com a memória de uma rede dinâmica, em contínua transformação, composta por estudantes, professore/as e voluntáries/as, indígenas ou não, que interagem e compõem suas práticas em processos de coautoria. A disponibilização do relatório no portal https://redeindigena.ip.usp.br/ permite dar visibilidade a informações de interesse público.

 A composição do relatório ensejou alguns desafios. A equipe buscou fazê-lo de forma orgânica, compreendendo o sentido de sua produção nas conversas coletivas que aconteceram na forma de nhemboaty (modo Guarani de fazer reuniões), na Casa de Culturas Indígenas do IPUSP.

Primeiro falamos sobre a pertinência do relatório nas primeiras reuniões de 2024 e ouvimos como a escuta ressoou nas falas seguintes entre todos os membros da equipe que participavam das reuniões. Algumas pessoas trouxeram memórias de suas participações no ano anterior, em ações da Rede. Depois, a tarefa concreta de reunir tais informações ficou concentrada em um grupo de estudantes vinculados a projetos de Ensino, Pesquisa e Extensão, do Programa Unificado de Bolsas (PUB) da USP. Em seguida, um des voluntáries, doutorando da FEUSP, se juntou à equipe de produção do Relatório. A equipe se encontrava regularmente nos nhemboaty que acontecem na Casa de Culturas Indígenas e nas reuniões de produção que acontecem no Laboratório de Interação Verbal e Produção de Conhecimento.

Es estudantes buscaram dialogar mais amplamente com a equipe da Rede, por meio das Redes Sociais (Whatsapp), consultando sobre memórias e outros registros (por exemplo, fotográficos) de eventos. Os bolsistas tiveram acesso ao repositório do projeto de pesquisa Rede de atenção à pessoa indígena: concepções, práticas e ambientes para a saúde e o bem-viver (processo FAPESP 22/04906-3), onde estavam reunidos documentos públicos e dados de projetos correspondentes ao período focalizado.

Parte das informações reunidas foram sistematizadas em uma planilha e foram construídas categorias aglutinadoras de alguns conjuntos de ações. Informações sobre o público alcançado foram buscadas, embora, os registros não fossem muito precisos na maior parte dos casos. Informações sobre os locais percorridos também foram buscadas na composição do relatório. 

Após reunidas as informações mais relevantes, a avaliação das demandas e definição de objetivos do trabalho da Rede foram articulados. Produziram uma narrativa da evolução do trabalho e procedimentos adotados e iniciaram as primeiras reflexões sobre encaminhamentos a partir do que foi experimentado pela Rede em 2023. Uma versão preliminar do texto, ainda em fase de construção, foi partilhada com os/as demais integrantes da Rede Indígena para obtenção de sugestões e para fomentar a partilha de registros que, eventualmente, ainda não haviam sido contemplados. A equipe de produção do relatório fez novas revisões de conteúdo e formatação para chegar ao que temos aqui. 

A feitura deste relatório é um marco importante para a Rede. Até o presente momento, os relatórios das ações eram produzidos como respostas a demandas institucionais da Universidade, como requisitos para conclusão de projetos específicos e prestação de contas de financiamentos. O presente relatório, por sua vez, é uma produção autônoma da Rede, que começa a definir mais ativamente, junto com ele, a forma como pretende comunicar e dar visibilidade às suas ações.

Como primeiro relatório, no sentido da autonomia que acabo de referir, é preciso reconhecer limites. Começamos a pensar a estrutura do relatório a partir das regras para a elaboração de documentos escritos produzidos por profissionais da psicologia no exercício da profissão. Entretanto, ajustamos a estrutura para contemplar a multidiversidade de pessoas, comunidades, instituições e ações que a Rede Indígena articula.

Muito do registro do que se vive na Rede Indígena permanece inscrito na corporeidade des participantes, e não ganham “voz” nas palavras escritas. Outra parte é vivamente narrada a cada encontro, em especial, nos nhemboaty, em que a linguagem oral é a forma prioritária de expressão. A passagem para o texto escrito de ampla publicação é feita de maneira seletiva e passa a existir como vestígio de muitos outros sentimentos e pensamentos comunicados nos encontros presenciais.

Entendo que a recepção que o documento terá no público leitor nos dará a dimensão da pertinência tanto dos conteúdos quanto da forma de exposição. É, portanto, mais um passo formativo do fazer coletivo e suas potencialidades no percurso da Rede.

Financiamento: FAPESP (Processo número: 22/04906-3) e CNPq (Processo número: 306149/2023-0)

Por Danilo Silva Guimarães (Tupã Jekupe).